SEGURANÇA PSICOLÓGICA NO TRABALHO
- Ronilda Iyakemi Ribeiro

- 8 de ago.
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Na manhã de 06 de agosto de 2025 participei da Semana pelo respeito, diversidade e prevenção ao assédio, realizado pela Secretaria da Fazenda e do Planejamento do Estado de São Paulo – Sefaz-SP. Mais precisamente, participei do Painel 2 - Respeito às Diferenças e Segurança Psicológica nas Relações de Trabalho, representando, juntamente com a Profa. Vania Soares, o Fórum Inter-religioso por uma Cultura de Paz e Liberdade de Crença, do qual participo representando a Universidade Paulista.
Apreço às diferenças e segurança psicológica nas relações de trabalho, foi o tema abordado por mim. O que significa promover segurança psicológica nas relações de trabalho? Significa garantir que todas as pessoas se sintam respeitadas, valorizadas e livres para expressar opiniões, ideias, emoções e identidades, sem medo de retaliação, ridicularização ou exclusão.
Um fator frequentemente atuante nas interações humanas é a intolerância à diversidade. O que seria então desejável? Tolerância à diversidade? Tolerância à diversidade é quase tão ofensivo quanto a intolerância. É preciso haver apreço à diversidade. E mais: celebração da diversidade, pois é exatamente a diversidade um dos elementos mais preciosos da constituição demográfica da sociedade brasileira. Respeito genuíno às diferenças e disposição para o diálogo autêntico são ingredientes básicos do apreço e da celebração das diferenças.
Quando a diversidade é apreciada e mesmo celebrada, o diferente é recebido com empatia, desejo de diálogo, disposição para o vínculo interpessoal. Estamos falando num tipo de postura que favorece a ocorrência do que denominamos “segurança psicológica”. E segurança psicológica é condição fundamental para o bem-estar, para o bem-viver em todo e qualquer ambiente: em casa, entre amigos, na escola, no trabalho... A Segurança Psicológica estimula a escuta ativa, fortalece vínculos, permite que erros sejam tratados como oportunidades de aprendizado, e não como motivos para punição, vergonha, bullying.
Nos Grupos de Trabalho, além do bem-estar, desejável em toda convivência, a Segurança Psicológica favorece a obtenção de ganhos no desempenho pessoal e na produtividade coletiva. Em alguns coletivos a segurança psicológica é experimentada desde o início de vida do grupo: ocorre espontaneamente. Mas, tais ocorrências grupais são raras. O que normalmente predomina na constituição de grupos é a necessidade de criação de um ambiente saudável por meio da adoção de compromisso, hora a hora, com a construção coletiva do ambiente que se deseja ter.
Essa construção demanda ação direta das lideranças de grupos de trabalho. E ao falarmos de Segurança Psicológica, estamos falando de ambientes nos quais as pessoas ficam confortáveis para serem elas mesmas, sem receio de julgamento ou retaliação. Mas a segurança psicológica no trabalho depende também de outros fatores: ambiente seguro, comunicação aberta, transparente e encorajada, aceitação de erros, diversidade de perspectivas, disposição para o diálogo autêntico. A segurança psicológica no trabalho é importante porque melhora o desempenho, reduz o estresse e a ansiedade, aumenta a criatividade e a inovação, aumenta o engajamento e a retenção de talentos.
A promoção de segurança psicológica no trabalho depende de alguns fatores: perfil da liderança do grupo, existência de comunicação eficazes e transparentes; capacitação de líderes e funcionários; promoção de uma cultura organizacional ética.
Agora, tomando por tema o apreço às diferenças como fator relevante da segurança psicológica no trabalho, consideremos a questão do apreço à diversidade, que é geralmente múltipla. Frequentemente há mais de um fator de diversidade em uma relação interpessoal e por isso falamos em INTERSECCIONALIDADE, conceito referente ao fato de diferentes características sociais - raça, gênero, classe, sexualidade etc. - interagirem, criando experiências únicas. Experiências de opressão ou experiências de privilégio. Não se trata, pois, apenas da soma de características, mas sim do modo pelo qual distintas características interagem para se manifestarem conjuntamente como identidade de uma pessoa.
Interseccionalidade porque as pessoas são constituídas de múltiplas características que se influenciam mutuamente. E é essa multiplicidade que determina a vivência de episódios de opressão ou de episódios de privilégio. O que isto significa? Significa que a interseccionalidade está diretamente atrelada a questões do poder nas interações sociais, sejam interações interpessoais ou grupais.
Em outras palavras, da interseccionalidade resultam interações de sistemas de opressão, entre os quais o racismo, o sexismo, o classismo e tantos outros sistemas de opressão que afetam as pessoas de diferentes formas, dependendo de como as diversas característica pessoais se articulam. Interseccionalidade é, pois, um conceito fundamental para a análise social . É também um conceito fundamental para a luta por um mundo mais justo e igualitário.
Porque a conquista de um mundo mais justo e igualitário inclui a necessidade de cada um de nós aceitar a complexidade das identidades e das experiências das outras pessoas. E a necessidade de estarmos sempre atentos aos jogos de poder, sempre presentes nas interações humanas. E ao nos propomos a particularizar a questão da interseccionalidade na sociedade brasileira, imediatamente nos ocorre a seguinte questão: como opera a interseccionalidade em países cuja população vive em regime de racismo estrutural? E como vivem os diversos segmentos populacionais com distintas características de gênero, orientação sexual, classe, condição etária, nível de escolarização e tantas outras características, em sociedades como a brasileira, sujeita a uma prolongada história de escravização de africanos?
Afinal, foram 350 anos em 525 anos da história do Brasil. No Brasil a escravidão perdurou por 7 dias em cada 10 dias da história de nosso país. A escravidão, violência contra negros africanos, foi sucedida de injustiça para com seus descendentes e repúdio a tudo o que se refere à África.
Vivemos em um sistema de preconceito e discriminação racial profundamente enraizado em nossa sociedade. A discriminação e o preconceito não ficam restritos a interações individuais: eles se manifestam nas instituições, nas políticas e nas práticas cotidianas. Eles operam de modo a manter as desigualdades sociais e econômicas entre brancos e negros, garantindo a perpetuação de regimes de exclusão associados a regimes de privilégios. Nem espaços de trabalho nem espaços religiosos estão poupados da estrutura e dinâmica próprias da sociedade brasileira.
E por que seria diferente? Integrando há anos o Fórum Inter-religioso por uma Cultura e Paz e Liberdade de Crença, sob a competente coordenação da Professora Vânia Soares, aprendi que além da formulação de políticas públicas, necessitamos também de espaços, muitos espaços, para exercício do diálogo entre diferentes. Logicamente o racismo estrutural se infiltra também nos grupos de diálogo.
Retomando a noção de interseccionalidade podemos compreender melhor que em coletivos como o do Fórum Inter-religioso, à diversidade religiosa se associam a diversidade étnico-racial e diversos outros tipos de diversidade. No início desta apresentação mencionamos que a segurança psicológica no trabalho depende de um ambiente seguro; depende da construção coletiva de uma base de confiança e respeito mútuos entre os membros da equipe e destes com a liderança e depende de uma comunicação aberta durante a qual a liderança seja exercida com competência e amorosidade.
Estas são condições básicas para o exercício de diálogo entre diferentes, diálogo que possibilite, também nos ambientes de trabalho, construir pontes e formar vizinhanças. Como bem expressou o escritor africano Mia Couto:
Que nossas fronteiras sejam varandas convidativas a vizinhanças. Que viajemos, nos percamos de nós mesmos para nos reencontrarmos nos outros...




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